Barbosa, goleiro do Brasil no Maracanazo, dizia que o gol de Ghiggia aparecia sempre em seus pesadelos. Era a arrancada nas costas de Bigode, a penetração na grande área e o chute na fresta mais improvável. E ele se via levantando, cabisbaixo e derrotado. A cena se repetia, com uma ponta de esperança de, quem sabe ?, acontecer diferente na vez seguinte. O pesadelo, porém, o perseguiu até a morte, sozinho e pobre. O gol, afinal, era irreversível.
O que acontece agora em Brasília não deixa de ser um pesadelo, com final há muito antecipado. Distintos senhores e senhoras, sérios, bem vestidos, simulam ouvir, posto que são surdos. Uns, como Cristovão Buarque, não se incomodam de emporcalhar suas biografias. Outros, habituados a pocilgas, apenas prosseguem a trajetória descartável, bancada por dinheiro público. Na frente de todos, uma mulher que errou um bocado, que superestimou o poder da burocracia, que se distanciou das massas, mas que não se acovardou e enfrentou a cáfila raivosa. Será deposta por chicaneiros contumazes, sem ter cometido crime que justificasse o afastamento. Na surdina, beijam-se Michel e Eduardo. Um beijo de língua, apaixonado, tesudo. Proibido para a plateia, mas tórrido em casa.
Gregório Duvivier contribuiu para traduzir este momento tão, digamos, peculiar. Recolheu poemas inéditos do Senhor Mesóclise e publicou, em primeira mão, na Folha de S. Paulo. Em segunda mão, trago até vocês. Se conseguirem dar um sorriso amargo, tudo bem, faz parte. Caso contrário, podem vomitar à vontade. Boa parte do país está com o estômago fod..., digo, avariado.
Abraço
Jacques
Gruman
Inéditos do Temer
POÉTICA
Chamar-me-ão de vampiro
De golpista ou morto-vivo
Chamar-me-ão de mordomo
Ou de vice decorativo
Alguns me chamam de Drácula
Outros usam Nosferatu
Alçaram-me à presidência
Pra acabar com a Lava Jato
Confessar-vos-ei meu nome
Antes que eu me vá embora
Meu segundo nome é Temer
Meu primeiro nome é Fora
De golpista ou morto-vivo
Chamar-me-ão de mordomo
Ou de vice decorativo
Alguns me chamam de Drácula
Outros usam Nosferatu
Alçaram-me à presidência
Pra acabar com a Lava Jato
Confessar-vos-ei meu nome
Antes que eu me vá embora
Meu segundo nome é Temer
Meu primeiro nome é Fora
O CASAL MAIS SHIPPADO
Como é bom se apaixonar
Somos feito carne e unha
Dos crimes que cometeu
Sou parceiro e testemunha
Sempre soube aceitar
tudo aquilo que eu propunha
Qualquer dia vou mudar
Meu nome pra Michel Cunha
Somos feito carne e unha
Dos crimes que cometeu
Sou parceiro e testemunha
Sempre soube aceitar
tudo aquilo que eu propunha
Qualquer dia vou mudar
Meu nome pra Michel Cunha
O INVERNO NO JABURU É QUASE GLACIAL
A Marcela não gosta desse lar
Como é duro morar no Jaburu
Michelzinho não posso mais buscar
Como é duro morar no Jaburu
Tiraram de perto de mim Jucá
Como é duro morar no Jaburu
Como é duro
como é duro
Como é duro e triste
morar no Jaburu
Se tristeza tem um nome
O teu nome é Jaburu
Como é duro morar no Jaburu
Michelzinho não posso mais buscar
Como é duro morar no Jaburu
Tiraram de perto de mim Jucá
Como é duro morar no Jaburu
Como é duro
como é duro
Como é duro e triste
morar no Jaburu
Se tristeza tem um nome
O teu nome é Jaburu
ROUBA, MAS NÃO ERRA CONCORDÂNCIA
Tirar-vos-ei os direitos
Roubar-vos-ei com afeto
Matar-vos-ei pelas costas
Foder-vos-ei pelo reto
Bandido bom é bandido
que tem português correto
Roubar-vos-ei com afeto
Matar-vos-ei pelas costas
Foder-vos-ei pelo reto
Bandido bom é bandido
que tem português correto
CONFISSÃO
Preciso contar um segredo
depois saio de fininho
Quem escreveu esse livro
não fui eu, foi Michelzinho
depois saio de fininho
Quem escreveu esse livro
não fui eu, foi Michelzinho