terça-feira, 6 de maio de 2014

FAMÍLIAS MONOPARENTAIS CHEFIADAS POR MULHERES:

 UM ESTUDO SOBRE A NOVA CONFIGURAÇÃO

Marília Rufino
Marília  Rufino - Assistente Social - colaboradora do  Blog  Acentelha 
O objetivo deste artigo é fazer uma reflexão acerca das novas configurações familiares. Neste sentido, o artigo está dividido em duas abordagens: famílias monoparentais brasileiras chefiadas por mulheres e a situação de crianças e adolescentes pertencentes à famílias monoparentais no contexto brasileiro. O estudo se baseia no entendimento de que a família faz parte da sociedade e tem papel fundamental dentro de uma construção coletiva presente na realidade.
Palavras-chave: Famílias monoparentais; Chefia Feminina; Crianças e Adolescentes
Introdução
Ao mesmo tempo em que a família é individual, é coletiva, a partir do momento que estas relações são encontradas em outros indivíduos. No contexto familiar muitos são os aspectos que podem ser destacados, como: sentimentos, manutenção da integração, condições importantes para existência, enfim, aspectos que moldam a família como uma instituição integrada, pois é sabido que as mudanças na família têm ocorrido e o modelo nuclear já não é o único.

1-Famílias monoparentais brasileiras chefiadas por mulheres 

Segundo Bruschini (2000) a família é um grupo aparentado, responsável, principalmente, pela socialização de suas crianças e pela satisfação de necessidades básicas. Ela consiste em um aglomerado de pessoas relacionadas entre si pelo sangue, casamento, aliança ou adoção, vivendo juntas, em geral, em uma mesma casa por tempo indefinido. Ela é considerada uma unidade social básica e universal por ser encontrada em todas as sociedades humanas, de uma forma ou de outra.
O século XVIII foi marcado pelo surgimento da família nuclear: Pai, Mãe e Filhos; onde o pai era o provedor e a mãe a cuidadora. Com o crescimento do capitalismo industrial no século XIX, ocorreram mudanças de valores, hábitos e costumes da família nuclear. Estas mudanças se acentuam com a possibilidade de entrada das mulheres no mercado de trabalho no século XX, e se consolidam após a I Guerra Mundial, quando as mulheres de fato se inserem no mercado de trabalho e a partir daí conquistam vários direitos. No Brasil o ingresso da mulher no mercado de trabalho, deu-se a partir da década de 60, onde o país apresentava um especial crescimento econômico.

Antunes (2001) faz uma análise sobre as mulheres que trabalham fora. Ele diz que elas mantêm seus domicílios, mas continuam sendo responsáveis pelos serviços domésticos, cuidados com a casa e com os filhos. Ou seja, apesar das conquistas, o homem, na sua maioria não substitui a mulher no trabalho doméstico, mas a mesma ocupou espaços antes masculinos1. É perceptível ainda que apesar de conservadorismo, das posturas tradicionais, as mulheres têm percorrido um caminho de mudança e transformação importante, tornando-as mais autônomas, mesmo quando essa monoparentalidade não é uma escolha, mas uma conseqüência.
A chefia familiar para as mulheres não está relacionada apenas à manutenção econômica, mas também a responsabilidade com os filhos. Sentem-se culpadas quando não conseguem cuidar da casa, dos filhos e ter um bom salário. Carloto (2006), chama a atenção para as famílias “encabeçadas” por mulheres. Nelas, o homem está ausente, seja de forma temporária (migração) ou permanente (separação, morte, abandono).
Em relação ao crescimento da chefia familiar, dados do IBGE (2010), mostram que as famílias chefiadas por mulheres no país passou de 22,2% para 37,3%, entre 2000 e 2010. Também aumentou o número de famílias monoparentais, de 11,6% para 12,2%.

2-Situação de crianças e adolescentes pertencentes à famílias monoparentais

As crianças e adolescentes pertencentes à famílias monoparentais no Brasil, vivem em sua maioria em situação de vulnerabilidade e risco social. Todavia, vale ressaltar que nem todas as famílias monoparentais são pobres ou chefiadas por mulheres.
Quando os pais se separam, as crianças e/ou os adolescentes têm que enfrentar esta crise, o que não é fácil. Pois muitas coisas mudam e dependendo de como essa separação ocorra, a tristeza, a revolta, a dor e o medo, são sentimentos que podem passar a fazer parte da rotina destes e chefia feminina parece estar grandemente associada a domicílios menores, mas fundamentalmente composto por população infantil, favorecendo a inserção precoce de crianças em atividades remuneradas e de produção. Isto eleva a pobreza e atinge de fato as crianças e adolescentes pertencentes a este arranjo familiar.
Compreender as questões que envolvem a família não é fácil, pois elas nem sempre se apresentam claras. A compreensão torna-se mais complexa quando o arranjo difere do tradicional (pai, mãe e filho/s). A análise sobre os diferentes arranjos familiares não
pode, portanto, ser descolada das formas de organização e reprodução do sistema como um todo. Isso porque a família promove alterações na sociedade ao mesmo tempo em que é modificada também por elas. Desse modo, compreender as famílias monoparentais implica abandonar estigmas e preconceitos, evitar generalizações e, sobretudo, compreender que “a monoparentalidade é um estado em aberto [e] por essa razão deve ser considerada [...] em suas permanências e recomposições” (VITALE, 2002, p. 58). É preciso, sobretudo, evitar “a naturalização da família e compreendê-la como um grupo social cujos movimentos de organização, desorganização e reorganização mantêm estreita relação com o contexto sociocultural” (CARVALHO,2002 p. 15).

Em síntese, as mudanças ocorridas na família trazem subsídios para pesquisa, na busca de compreender o que de fato tem ocorrido. Dessa forma, gostaria de ressaltar a oportunidade que tive ao estudar sobre um tema tão pertinente para as relações sociais e humanas, numa perspectiva de contribuir para o avanço do conhecimento sobre as famílias monoparentais chefiadas por mulheres. As experiências apreendidas modificaram em muitos aspectos o meu olhar, não apenas para as relações familiares estudadas, mas também para a minha condição de mulher em um dado contexto familiar. Nessa direção, reafirmo a importância da contribuição deste trabalho como incentivo para que as mulheres possam olhar com mais criticidade e entender a sua importância na família monoparental.
Referências
ANTUNES, Ricardo. Os Sentidos do Trabalho: ensaio sobre a afirmação e a negação do trabalho. São Paulo: Boitempo Editorial, 2001;
BRUSCHINI, C. Mulher, casa e família. São Paulo: Editora Revistas dos Tribunais, 1990. BARROSO, C. Sofridas e mal pagas. Cad. Pesquisa, São Paulo, Fundação Carlos Chagas, n. 37, 1981;
CARLOTO, Cássia Maria. Gênero, políticas públicas e centralidade na família. In: Serviço social & sociedade, São Paulo, v.27, n. 86, p. 139-155, jul. 2006;
CARVALHO, L. Famílias chefiadas por mulheres: relevância para uma política social dirigida. In: Serviço Social & Sociedade, São Paulo, Cortez, n. 57, jul. 1998;
VITALE, Maria Amalia Faller. Famílias monoparentais: indagações. In: Revista Serviço Social & Sociedade: especial famílias. Ano XXIII, n. 71. São Paulo: Cortez, set. 2002, p. 45-62.

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